Saiba mais sobre o azeite mineiro mundialmente reconhecido
Produzido em Maria da Fé, o azeite Mantikir já coleciona premiações e reconhecimentos ao redor do mundo em apenas 3 produções
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Siga noOs brasileiros, e principalmente os mineiros, já estão ficando acostumados a ler manchetes que celebram o reconhecimento de azeites produzidos no estado. Um dos grandes responsáveis por isso é o Mantikir, da cidade de Maria da Fé, no Sul de Minas, que vem dando orgulho para o público brasileiro.
A história desse azeite, embora recente, vem sendo aprimorada a cada ano, com novas conquistas e premiações. A mais tenra foi o reconhecimento do Mantikir Summit Premium (R$ 245) no ranking dos 100 melhores do mundo do Guide Top 100 Evooleum Awards, premiação espanhola.
O produto foi classificado com 93 pontos, em 16º lugar na lista global e se consolidando como o único rótulo do Brasil e até mesmo das Américas reconhecido. No ano passado, o produto chegou a ser classificado como o melhor do mundo na categoria dos que produzem até 2.500 litros, dentro do mesmo guia espanhol.
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Produzido pela Vinícola Essenza com plantações cultivadas na Fazenda Tuiuva, no município de Maria da Fé, o azeite premiado é composto por quatro tipos de azeitonas: arbequina, coratina, grappolo e koroneiki. Cada uma delas possui características distintas que configuram e compõem o sabor único deste blend.
Herbert Sales, proprietário da vinícola, explica que a arbequina, por exemplo, apresenta notas amendoadas, com pouca picância e amargor, enquanto a coratina traz mais pungência ao blend, por ter características de mais amargor. A grappolo, segundo Sales, é uma variedade italiana que é rara de se encontrar na Itália atualmente e bem intensa, acrescenta picância e um pouco mais de amargor à mistura. Já a koroneiki é uma azeitona grega responsável por trazer um toque cítrico e floral.
Jovem destaque
A história na vinícola, que, além do azeite também produz vinhos premiados, é recente. Em 2015, Herbert comprou uma propriedade em Santo Antônio do Pinhal, de aproximadamente 1.250 metros de altitude, para ser um local de descanso e possivelmente um espaço destinado ao enoturismo.
Como seu objetivo não era desmatar nada do terreno, ele plantou 1.000 plantas de três variedades de uvas nos dois hectares de mata aberta do local: Sauvignon Blanc, Syrah e Cabernet Franc. O primeiro vinho rosé foi produzido em 2020 e se tornou um sucesso, levando para casa uma medalha de bronze no Decanter World Wine Awards de 2021, importante premiação internacional de vinhos.
O reconhecimento dos azeites, assim como o dos vinhos, não foi nada tardio. O Mantikir Summit, por exemplo, é resultado da terceira safra de azeites da Essenza.
Pensando em ampliar o negócio, Herbert encontrou uma terra em Minas, já que não teria muito espaço para plantar em propriedades próximas de onde já era a vinícola. A nova aquisição foi feita pensando também no clima ameno da região em que se encontra, na Serra da Mantiqueira mineira.
Com o novo terreno, ele pôde também aumentar a plantação de uvas e oliveiras . “Lá é o olival mais alto do mundo, já que em outras regiões, nesta altitude (entre 1.700 e 1.910m), há neve. Aqui, podemos aproveitar de um clima ameno sem neve”, explica o proprietário.
Benção mineira
Os aspectos climáticos, aliás, são essenciais para o sucesso do azeite, de acordo com Herbert. O microclima com verões não tão quentes, com noites mais frias, segundo o proprietário, auxilia a fruta a reter mais polifenóis, compostos vegetais que dão mais notas de complexidade ao produto além de, inclusive, estarem associados à redução de risco de doenças cardíacas.
Fato é que essas temperaturas ideais também devem-se muito a altitude do olival, que varia entre 1.700 e 1.910 metros. O frio é essencial para que as azeitonas não comecem a fermentar após serem colhidas, como pode acontecer, e com isso diminuir os polifenóis e o potencial de sabores da fruta. Por isso, ao lavar as azeitonas, utilizam água fria e a levam até um lagar (máquina onde as azeitonas são prensadas e dão origem ao azeite) também alto, para que o tempo de deslocamento também não seja muito longo.
O fato dos quatro anos de existência do olival, já terem rendido três produções deve ser celebrado, e pode estar associado ao clima do local de plantio. Herbert explica que muitas produções europeias, por exemplo, precisam de plantações com dez anos de idade para iniciar uma produção.
Sales conta ainda que, na Essenza, eles trabalham com uma colheita prematura para gerar um óleo de mais qualidade, o que faz com que percam um pouco de rendimento. "A gente perde em volume de óleo, mas ganha em qualidade. Usamos de 12 a 14 kg de fruta para cada litro de azeite."
'Um líquido divino'
A paixão e admiração de Herbert pelos azeites não é nova, mas até hoje ele se deslumbra com um óleo que possa ser tão bem conservado, por suas propriedades e capacidade de adaptação. “É uma planta com características europeias, naturais de um solo mais calcário, e a gente não tem solo mais calcário aqui. Temos ainda a adversidade da primavera eventualmente aqui no Brasil que dificilmente a Europa vai ter”, destaca o proprietário, enfatizando as diferenças naturais da terra que é referência na plantação da oliveira quando comparada ao Brasil.
Reconhecimento mineiro e brasileiro
Ana Beloto, azeitóloga e sommeliere de azeites com cerca de 20 anos de atuação no setor, explica que os azeites brasileiros possuem particularidades. "Os azeites brasileiros são reconhecidos por serem frescos e com uma complexa diversidade sensorial pelo fato da adaptação das oliveiras aos diferentes terroirs brasileiros", explica.
No caso de Minas Gerais, há ainda características muito próprias do estado que conferem ao produto propriedades de complexidade. "Os azeites mineiros, geralmente, são muito frescos, aromáticos e equilibrados, com boa diversidade de perfis sensoriais únicos e particulares de nosso terroir", conta a especialista. Segundo Ana, o estado investe também na produção com a colheita precoce, que gera uma extração rápida e azeites de mais qualidade, algo que Herbert destaca também.
A especialista ressalta ainda o que essas recentes conquistas podem e devem trazer de consequências para o país. "Isso aumenta o consumo do azeite fresco e de alta qualidade, incentivando mais pessoas a conhecerem um bom produto; estimula investimentos em tecnologia e pesquisa no setor e incentiva o uso do azeite de maneira mais ampla", diz.